Paradoxos do arqueiro

“Como flechas na mão do guerreiro,
assim são os filhos”.
Salmo 127.4

Flavio Musa de Freitas Guimarães
2 min readNov 10, 2021

Ah! Este vazio tão denso e pesado

De lembranças frescas e leves!

De abraços e beijos, de seus cheiros,

Vozes, gritos, algazarra.

Das conversas tantas

De projetos e afetos…

Como pesa o vazio!

Arcos, nos retesamos

Por muitos,

Poucos e deliciosos,

Anos,

Sentindo cada vibração

Da madeira e corda,

A agitação de haste e seta,

Seus movimentos e buscas,

Cambiantes alvos e direções.

Até que de repente

Entendemos:

A flecha vai partir.

Então já velhos guerreiros

Provados em tanta luta,

Tanta queda, tanta volta,

Pensando sermos

Empedernidos,

Fraquejam braço e peito;

E ela voa por si só.

Sofrimento, angústias,

Feitos de alegrias,

Augúrios.

O coração fica pequeno

De tanto amor e carinho.

E pequenino percorre

Corre célere

Longos tempos, espaços,

Pra na distante flechinha

Derramar sua carga e bênçãos.

Não há mais arco nem corda;

Sobrou esta flecha bem usada

Que de queridos arcos

Um dia também voou.

Apontei flechas, cinco.

Procurei dar direção

Sem estreitezas

De linha ou plano;

Em multi espaços

Com leves fronteiras

Tecidas de querer bem.

Uma, de tão leve e frágil,

Sumiu-se pelos Céus.

Outras e outro

Construíram seus caminhos

Aprontaram e aprontam

Suas flechas

De seus cestos ou adotadas.

Longe ou perto

Inda que em pouso certo,

De cada uma

Tenho um coraçãozinho

Enorme,

Apertado, abarrotado,

De amor e carinho,

De bênçãos que deles brotam

A cada relembrar.

Ah! Queridas,

Todas deixaram um vazio

Também repleto

Do peso de tanta lembrança!

Eis que já em avançada

Idade e mais fraquinho

A coisa se repete.

Casa cheia de vozes,

Amigos,

Gritos, falas, andanças,

Carinhos, abraços,

Cheia de você,

Cheia de lembranças

Que a esvaziam;

E toldam

Meu dia,

Minha noite silente,

Vazia!

Você foi, Flecha minha,

Mais uma vez para seus alvos

Distantes,

Em que eu o busco,

Sonho, imagino,

Paragens e andagens

Em que juntos estejamos.

Sonho que seja,

Alivia o oco em que sua partida

Transformou esta casa minha.

E vou voando, velejando, com você,

Esperando em cada chegada

A cada porto, cada ponto,

Ouvir sua voz, ver seu rosto,

Ao menos uma mensagem

Que me diga

Onde está e como.

E neste árido vácuo

Que de lembranças

Em abundante colheita

Se abarrota,

Sofro de alegria

Ao ver mais esta cria minha

Cada vez mais gente,

Intrépido, feliz, seguro,

Buscar seus espaços, seu futuro,

Forte, belo, inteligente,

Indez de coisas boas,

Crescimento e conquistas.

Ai!

Como pesa o vazio!

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Flavio Musa de Freitas Guimarães
Flavio Musa de Freitas Guimarães

Written by Flavio Musa de Freitas Guimarães

Already watching the eighty-eight turn of the Earth in curtsy around its King, I’m an engineer that became a writer, happy, in perfect health, body and mind.

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