PAIXÃO

Aurora, ​a ​deusa que abre o caminho para o Sol! — Aurora-triumphing-over-the-night-1755-Commons-Wikipedia-2000x840–1024x430

Promessa de manhã
De um veranico de maio,
Dia s’espreguiçando
Pra começar.
Ela ali brilhante
Vigilante.
Sob seu signo
Em ascendente
Comecei já há tanto
Tempo, tanta estrada,
Minha caminhada.
Foi ela autora do feito,
Amou-me desde o leito,
Ou fui eu desde sempre
Seu eterno enamorado?

Amo o dia
Com suas cores e sons
E até cacofonias.
Encanto-me dentro dele
Com encontros, parcerias,
Ou mesmo desencontros.
Amo ver, ouvir, tocar
Almas e gentes,
E por tantas ser tocado!
Alegrias muitas
Frustrações parcas.
Matéria a ser revivida
Em sonhos de logo mais.

Adoro o amanhecer,
As manhãs puras e leves
Faça sol radiante
Chova violenta,
Ou lentamente,
Chuva fininha,

https://cronicasdaalma.wordpress.com/2012/06/13/neblina/

Que me refaz menino
Da São Paulo da garoa.

À Aurora me entrego
Com paixão pura,
De adolescente, menino.
E como não?

O dia chega
E me faz adulto.
A ela também.
Guardo a pureza, a leveza,
A radiação ou a chuva
Que alimentam,
Para enfeitar meu dia,
Pensando enfeitar o mundo
Fiel à querida Aurora.

Passa o dia,
Vem outro.
A cada e todo dia,
A cada fim de dia,
A amante chega.

Nyx_Greek_Goddess_of_Night_by_Alayna

Tenta-me, seduz, envolve!
Entrego-me.
E viajamos em volúpia
Noite adentro, madrugada sem fim.
Até que nos chega a hora
Da despedida:
Eu que tenho à frente o dia,
Ela que com ele morre!
E assim se foram dias e décadas.

.

.

Aqui não se dorme nunca:
Só se cochila.
Quis ver minha amada.

A janela está longe,

Mas sei que está lá
Fazendo feliz o mundo
Em nome de nosso amor.
Cochilo de novo.
Ela chega, rindo como sempre,
Como sempre zombeteira.
E aí, paixão, que espera?
Solta as amarras,
Vem curtir, dançar, se embriagar,
Amar-me sem preconceitos,
Na noite que nunca se acaba.

Apago; e ela comigo.
Mesmo tão cansado,
De tudo, da dor, sofrimento,
Reluto.

Eis que ouço o timbre claro,
A voz maviosa de Aurora!
Vem querido, não tema!
Vésper e eu somos uma:
Terá a volúpia das noites,
Nas madrugadas adentro;
O Sol de cada aurora,
Que o acalente nas praias,
As chuvas que confortam,
No dia que nunca se acaba.

Me entrego.

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Flavio Musa de Freitas Guimarães

Already watching the eighty-eight turn of the Earth in curtsy around its King, I’m an engineer that became a writer, happy, in perfect health, body and mind.