Gente humilde sem vontade de chorar

Sonho vivendo; vivo novo sonho.

Por quanto tempo não sei.

E por aí vai o cardápio do Jhony’s Bar e Restaurante (sic), aqui ao lado do Edifício Anchieta, onde moro, com porções que dão para duas pessoas famintas e tudo já com um monte de salada ou o que se desejar. Se lá almoço já saio com a janta; se ao contrário, o contrário idem.

Uma negra e uma mulata, entre seus trinta e poucos e quarenta, duas mesas adiante, já pediram a terceira Brahma.

Conversam, fofocam, riem às pampas.

Entra um casalzinho jovem de branquelos azedos, chega à sua mesa: abraços, beijos, alegria em se reverem, a despeito da diferença de idades. “Tcháu! Deus os acompanhe… A vocês também!”.

- “Oi, professor! Que vai querer hoje?”

- “Hoje sou Mestre. Mestre Sala da Unidos da Muleta e da Bengala”.

Olho a televisão: A Fátima e o Bonner movimentam os lábios; não dá para escutar nada. Prefiro a realidade ao redor.

Dois motoristas pedem cafés (cafés melados, já coados com açúcar! É isto aí: pobre toma esta coisa por 55 centavos…). Um me cumprimenta.

Dois jovens também entre os trinta e muitos e quarenta sentam-se à mesa perto da porta, de esguelha para a minha. Não vi o que pediram, mas já têm uma Brahma e um cinzeiro e fumam. Falam baixo: aqui ninguém fala alto, ninguém alardeia o último carro, cavalo, ou iate comprado (mas quase todos têm seus carrinhos). Gente educada. Gente que é.

Mesmo que falem baixo entendo que ele é argentino, ela patrícia. Conversam; ele passa continuamente o braço por seus ombros; ele fala, bem baixinho, coisas em seu ouvido; beija-a na testa, no rosto, no pescoço. Às vezes conversam normalmente.

Termino meu jantar e acendo um cigarro.

O senhor argentino vira-se com um cigarro nas mãos. Pensei que fosse me pedir o isqueiro. Diz: “Agora que o senhor terminou seu jantar, vou fumar”.

Os dois fumam e eu continuo a imaginar se cena como esta poderia ter ocorrido em qualquer dos restaurantes “chiques” que já conheci e frequentei.

Aqui, Garçons Gente. Gente simples e real. Iguais; sem frescuras.

Não nos olham de alto abaixo como em tantos lugares “In”, onde se paga os tubos, e em que pretendem que sejamos menos (ou pensem que somos mais) que eles…

De dia e de noite.

Isto foi em 2002, quando se fumava dentro de restaurantes e bares e… não se usava máscaras.

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Flavio Musa de Freitas Guimarães
Flavio Musa de Freitas Guimarães

Written by Flavio Musa de Freitas Guimarães

Already watching the eighty-eight turn of the Earth in curtsy around its King, I’m an engineer that became a writer, happy, in perfect health, body and mind.

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