“Faça o bem, sem olhar para quem”
E aguente a gratidão…
O que aconteceu com você menino?
Sem cores, roupa rasgada!
O jovem moço, descansou um pouco, e conseguiu dizer: foram os monstros. Preciso de água e comida.
− Você não percebe? Você está sobre um reservatório de água: beba que vou arranjar alguma coisa para lhe restaurar as forças.
O senhor lhe trouxe um bom pedaço de favo de mel.
− Trouxe o que pude encontrar.
O menino se espantou com o tamanho do prato: era maior que ele! Mas nem respondeu: chupava, avidamente, cada grande favo.
− Calma, garoto! Coma aos poucos; isto é muito forte. Pare, descanse, e então coma só mais um bocado.
Como é seu nome? O meu é Zangado.
− Ainda não tenho nome; meus pais foram espantados por monstros, não tiveram tempo de me dar um.
− Pobrezinho! Então eu o batizo de Fênix.
− Fênix? Que é isto?
− É o nome de uma ave que ressurgiu de suas cinzas.
- Não! Eu não me queimei!
− Fica sendo Fênix; é uma metáfora; quando você estiver maior, grande e livre como um pássaro, volte aqui que eu lhe conto.
− Metáfora é nome feio? Isto meus pais me disseram para nunca falar.
Zangado ria de sacudir suas flácidas bochechas sobre o colarinho duro.
− Está rindo de meus pais! Não pode!
Enxugando as lágrimas com a mão torta do braço torto…
− Não! Nada disto! No pouco tempo que seus pais estiveram com você lhe deram ótima educação! Parabéns para eles.
− Então de que o senhor ri?
− Desculpe; usei uma palavra que você entenderá quando estudar. Quer dizer uma coisa que lembra outra que aconteceu com outra pessoa.
Fênix tomou um gole de água e chupou mais três gomos de fava.
− Agora conte o que lhe aconteceu.
− Senhor Zangado, quando fiquei sozinho perdido de meus pais, andei, andei, fiquei com muita fome; vi uma caverna enorme, sem mais nada ver, sem pensar voei para dentro dela…
− Mas rapaz, como haveria comida numa caverna?
− Vejo que o senhor está bem gordinho, nunca soube o que é fome: a fome me abateu, deu alucinações, a gente quase fica louco…
− Sim, conheço o que acontece com quem tem tanta sede que acredita ver um Oasis num deserto.
− ??
− Desculpe: outra coisa que você ainda aprenderá. Mas entendi perfeitamente.
− Sim, não havia comida, mas havia duas saídas onde se via o sol, a continuação da relva de onde eu viera. Continuei rápido para uma delas, bati com a cabeça numa coisa dura, não dava para passar. Uma coisa incrível, coisa de bruxas, diria minha mãe que me contava histórias!
Voltei, arremeti com força, bati de novo e… nada!
O senhor não pode imaginar meu medo, minha angústia!
Virei para a outra saída; desta então eu vi o lugar exato de por onde entrei na caverna; Zaz e, mesma coisa; a bruxaria me apavorou ainda mais.
Voltei e, no caminho de volta, vi coisas que estavam dependuradas nas paredes da caverna. Me apoiei numa, era firme, sentei-me para recobrar fôlego.
Um monstro de cabeça como um ovo grande me viu quando bati nesta janela, se levantou, saiu por um buraco que não vi, voltou com uma vara comprida parecia um bambu grosso com um monte de palhas na ponta, começou a tentar me pegar com ela, fui para a primeira janela rápido; quase quebrei a boca.
O Cabeça de Ovo me empurrava para baixo, me empurrava pra baixo de novo, Deus dos céus! Meu coração batia desesperado, a boca seca, fui de novo para as coisas penduradas na caverna, escapei, sentei-me para recuperar fôlego e forças, e lá veio o Cabeça de Ovo com a vara para me pegar! Tive que voltar para a outra janela.
O monstro fez uns barulhos, parecia de uma onça, apareceu outro monstro, este com folhas brancas de milho em cima do Ovo, rugiu para o outro, que foi encurtando um tapamento escuro ao lado da primeira janela, apareceu outra janela embaixo. Pensei “acho que esta é a saída de verdade”; e o monstro me empurrava na direção dela; zarpei: machuquei minha cabeça e outra vez quase quebrei meus dentes!
A Cabeça de Ovo com palhas brancas urrou novamente, o Cabeça de Ovo deixou a vara encostada na parede, voltou para a tal entrada que não vi, saiu com uma coisa que acho era uma arapuca alta, pegou a vara, subiu pela arapuca, tentou chegar perto de mim e me empurrava para baixo, sentei-me em outra saliência.
O monstro Cabeça com Palha urrou, o Cabeça de Ovo desceu e saiu por onde entrei. Fiquei ali sentado, imaginando que outra malvadeza ele iria fazer. Eu só pensava em coisas ruins: é horrível pensar isto, senhor! Pior que a realidade.
Ele voltou com outro Cabeça de Ovo, este com muitos espinhos no alto do ovo, maior e mais alto que ele!
Ele é que agora estava com a vara me empurrando para baixo; voltei para uma saliência, ele subiu na arapuca, com a palha me prendeu ali.
O Cabeça de Ovo chegou onde eu estava, com sua enorme mão me pegou pela beira do casaco, saí com força, ele ficou com um pedaço do casaco na mão. Eu já não tinha mais forças, mas o Cabeça de Ovo Com Espinhos me empurrou!
Só deu para me deitar em outra saliência, sem ter mais forças para me mexer. Senti sua mão enorme me pegando. Pensei: É meu fim!
Não: ele me pegou com carinho, coçou minha cabeça, saiu comigo em suas mãos, chegou onde o senhor está, me empurrou, praticamente me jogou em cima deste reservatório de água.
O Cabeça com Espinhos, que eu pensei ser tão mau quanto os outros, era bom!
− Estes monstros maus vão se arrepender do que lhe fizeram! Vou chamar meu exército.
− O Senhor é um Rei ou general?
− Não, mas sou marido da Rainha.
Zangado saiu e voltou com vários batalhões zumbindo.
Minha esposa e eu gritando e inchados de picadas fomos socorridos pela vizinha que nos levou para o hospital.
Moral da fábula “Por fazer o bem, mal haver”