Enviar mensagens em datas festivas.

Compulsão ou doença social?

Não, nada a ver com mensagens escritas em cuneiforme, hieróglifos ou que tais.

Aqui interessam apenas mensagens escritas em papel, descoberto, por acaso, por T’sai Lun em 105 desta era, mais tarde batizada como Depois de Cristo.

Meu intuito é falar da banalização e despersonalização das mensagens sobre datas festivas depois que a Internet permitiu a utilização de redes sociais diversas para enviar coisas feitas por outrem. Bonitinhas e imaginativas, o mais das vezes besteirol idiota, as detesto; só respondo a algumas por serem de pessoas muito queridas que também acham que não têm tempo para me dizer que me amam.

Antes disso a gente enviava uma mensagem escrita personalizada para quem a recebia, falando do valor da data para si, sua e da família a de quem a recebia, desejando saúde, amor, felicidade, muitos anos de vida, conforme a data festiva. Ou usava o Graham Bell se ambos já tinham telefone.

Mandavam, pelo correio, cartões postais de onde estavam, contando de como e onde estavam.

Ninguém tem obrigação de enviar este tipo de coisa: por que essa obsessão?

Não vou me sentir triste, muito menos desprezado, se eu não as receber.

Caramba! E as mensagens comerciais de Natal, Dia das Mães, Dos Pais…

Voltando:

Daí, então, a tecnologia das informações inoculou um vírus para atender à pressa (também virótica em que vivemos), alimentou a preguiça em destinar minutos para escrever coisas “sem importância”.

Há 50 anos, um professor de ciência da computação da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) e seu aluno enviaram a primeira mensagem por meio de um antecessor da internet, uma rede chamada ARPANET. “Em 29 de outubro de 1969, Leonard Kleinrock e Charley Kline enviaram ao pesquisador da Universidade de Stanford Bill Duval uma mensagem de duas letras: “lo.” A mensagem pretendida, a palavra completa “login”, tinha sido truncada por uma pane no computador”.

E surgiu o SMS! A primeira mensagem original foi recebida em 1992 por Richard Jarvis, colaborador da Vodafone. Foi um simples “Merry Christmas” (Feliz Natal) enviado de um computador.

Incomodado e infeliz com isto, fui examinar a história do aparecimento das mensagens.

Você vai ver que o twitter já foi usado pelos romanos, que o aprenderam dos orientais, que lá também podia ser interceptado por um falcão tipo Alexandre de Moraes, e que os cuidados com o que se escrevia uma mensagem eram importantes para não ser preso por um destes Cabeça de Ovo da história.

Muito mais tarde que as mensagens escritas em cuneiforme e hieróglifos, parece que os orientais já as usavam.

Bem mais tarde ainda, na Idade Média, Reis e Condes muito ricos as usaram.

A maioria das pessoas na Europa medieval era analfabeta, o que significava que escrever uma carta sozinho era quase impossível e que, mesmo que conseguissem, o destinatário da carta provavelmente não conseguiria lê-la sozinho. As mensagens, então, muitas vezes eram comunicações orais, cuidadosamente memorizadas pelo mensageiro. Qualquer um que tenha jogado um jogo de telefone na infância sabe com que facilidade as informações podem ser mal interpretadas ou mal lembradas, embora devamos dar crédito aos nossos antepassados: as pessoas nas culturas orais são melhores em ouvir e lembrar do que as pessoas nas culturas escritas (pela simples razão de que treinamos a nós mesmos escrever coisas para ajudar nossas memórias).

Ainda assim, enviar uma mensagem oral significava que havia pelo menos uma outra pessoa a par da comunicação, então o remetente teria que considerar as ramificações de compartilhar segredos com terceiros. Quando você considera pequenas mensagens (como lembrete para não esquecer de pagar a fatura…), isso pode não parecer tão ruim; no entanto, mensagens de maior importância exigiriam maior discrição.

Se uma pessoa normal sentisse a necessidade de uma mensagem ser escrita e enviada, ela teria que contar com um escriba para escrever para ela, novamente exigindo necessariamente o envolvimento de um terceiro, ou possivelmente um quarto, se o destinatário precisasse de alguém que o lesse para ele. Isso pode ter criado seus próprios problemas, pois o escritor pode ter que considerar o idioma no qual escrever e, possivelmente, também um dialeto. A maioria das pessoas provavelmente teria jogado pelo seguro e escrito em latim (a língua universal dos eruditos da época), mas mesmo o latim não estava totalmente a salvo das grafias peculiares e às vezes problemáticas que caracterizam a escrita medieval. Além disso, se o remetente fosse analfabeto, não haveria como verificar novamente se a palavra escrita realmente dizia o que pretendia dizer; Da mesma forma, um leitor do outro lado era capaz de enganar o ouvinte analfabeto. Um analfabeto ficava à mercê do alfabetizado quando se tratava de comunicação escrita.

Além dos problemas associados a realmente receber uma mensagem e entendê-la, o envio de comunicações por escrito teria sido muito caro. Naquela época, como agora, os serviços de escritores profissionais tinham um preço, e os materiais que eles usavam então eram caros. Na Europa, o pergaminho teria sido usado inicialmente, seguido pelo papel de linho, e o processo de fabricação de ambos é longo e árduo (um livro fantástico sobre isso é Medieval Craftsmen: Scribes and Illuminators , de Christopher DeHamel).

A fabricação de papel e a impressão progrediram lentamente para o oeste. A mensagem escrita, então, teria que justificar o gasto dos materiais utilizados.

Depois que uma mensagem era escrita, ela geralmente era selada com cera, usando um selo personalizado associado ao remetente. Alguns selos eram pequenos e humildes, enquanto os selos reais e papais eram grandes e elaborados. Os selos foram cuidadosamente escolhidos e elaborados, portanto, uma rápida pesquisa de imagens no Google de sua pessoa medieval favorita pode dizer muito sobre como eles se viam e o que era importante para eles.

Finalmente, a mensagem finalizada teria que ser enviada. Se a mensagem não fosse urgente, poderia ser enviada por um mercador ambulante ou possivelmente por um peregrino passando de uma cidade a outra. Se a mensagem fosse urgente, um menssageiro poderia ser despachado. A mensagem mais rápida teria exigido cavalos descansados ​​em intervalos regulares, mensageiros incansáveis, ​​e tempo ajudando para permitir o uso de estradas transitáveis ​​e mar calmo.

Também seria necessário um pouco de sorte, ou possivelmente uma escolta, para fazer um mensageiro passar por bandidos ou interceptadores (Ai! Olhaí o Xandão!), ou (muito menos emocionante) para ajudar no caso de um acidente ou lesão. Mesmo o mensageiro mais sortudo poderia levar semanas para ir do remetente ao destinatário; decisões foram tomadas e eventos ocorreram antes que uma mensagem chegasse ao destinatário.

Uma vez que muitos membros da realeza viajavam de palácio em palácio, ou de lugar em lugar em campanha, imagino que um mensageiro muitas vezes chegasse ao seu destino, apenas para descobrir que tinha que ir mais longe.

Há alguma evidência de que, então como agora, a maneira mais rápida de transmitir uma mensagem curta era o twitter: isto é, pássaros. A ideia de usar pombos como mensageiros parece ser uma das muitas inovações que a Europa Ocidental aprendeu com o Oriente Árabe, particularmente de sua exposição a isso durante as cruzadas. Esta teria sido uma maneira inegavelmente rápida de enviar uma mensagem dentro ou fora de um cerco, embora falcões e arqueiros treinados tornassem isso um negócio complicado (terrível a astúcia e competência dos Moraes!).

No mínimo, os povos medievais tiveram que considerar suas palavras e mensagens com muito cuidado antes de enviá-las, o que pode ser outra coisa que a sociedade moderna pode aprender com eles.

Que, aqui em Pindorama, aprendemos na marra.

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Flavio Musa de Freitas Guimarães
Flavio Musa de Freitas Guimarães

Written by Flavio Musa de Freitas Guimarães

Already watching the eighty-eight turn of the Earth in curtsy around its King, I’m an engineer that became a writer, happy, in perfect health, body and mind.

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